Parva que eu sou
O sucesso da nova musica dos Deolinda surpreendeu até os próprios autores. Mas a maior surpresa é que deita por terra a aparência de que os portugueses estão apáticos face à situação que o país vive. Os versos “Que mundo tão parvo que para ser escravo é preciso estudar” estão a ser repetidos no facebook. Tal facto obriga a reequacionar a apatia dos portugueses face à crise económica.
Isto obriga-me a colocar uma questão em que tenho andado a reflectir desde há uns tempos. Política é coisa de profis-sionais. Não é novidade nenhuma: Lenine à esquerda, Weber à direita aperceberam-se disso no início do século. Também Gramsci falava de intelectuais orgânicos. Só que opunha intelectuais orgânicos a intelectuais tradicionais, o que permite a leitura de que todos somos intelectuais e o tornou pai da esquerda autoproclamada “moderna”. O problema é que é um pai cornudo: quando Gramsci opôs intelectuais orgânicos a intelectuais tradicionais pretendeu de facto dizer que os intelectuais a que se referiam era ao dirigentes políticos a quem Lenine chamou de revolucionários profissionais. É preciso esquecer que Gramsci era um leninista convicto para deixar escapar este elemento.
Mas bom, esse não é o eixo do post. Sejam revolucionários profissionais (Lenine), políticos que vivem para a política (Weber) ou intelectuais orgânicos (Gramsci), os políticos são profissionais. O que quer dizer que sem eles as “massas” não se expressam politicamente. É com essa chave de leitura que podemos colocar a questão porque é que os Deolinda conseguiram chegar às massas e o PCP e o BE não… basta ver os resultados das presidenciais.
Não creio que se possa atribuir os erros às novas ou às velhas abordagens. Isso seria fácil. Se o problema fosse das velhas abordagens, o BE estava bem; se fosse das novas, o PCP estaria melhor. Como os dois não estão a conseguir canalizar o descontentamento como os Deolinda conseguiram.
Numa primeira análise, respondo que o problema está no lugar onde a sociedade contemporânea colocou a política. Hoje em dia, a Assembleia da República é o beco dos charlatões.
Que devem fazer os partidos de esquerda para ultrapassar este problema?
Respondo com toda a sinceridade: não faço ideia!!!
Mas fica o vídeo da música (e o link para o Charlatão de Zé Mário Branco).
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