Fala Ferreira

Assim me saúdam os amigos de Guatemala.

Os derrotados das presidenciais

A avaliação que Francisco Louçã fez das eleições presidenciais é mais oportunista que oportuna. Quer tapar um erro estratégico crasso com uma péssima análise da derrota. Se PS, BE e PCP, a esquerda segundo Louçã, saíram derrotados das eleições, nem todos saíram igualmente derrotados. É preciso destrinchar (isto é, analisar) os resultados para entendê-los. Mas aí Louçã teria de assumir o seu erro…

Mas vamos por pontos.

1. O vencedor das eleições é Cavaco Silva. Não é o PSD. Isto é importante que se diga. Porquê? Porque se chegou a cogitar a possibilidade de uma queda do governo PS com uma derrota estrondosa da Alegre (assim como aconteceu com António Guterres e as eleições municipais), e tal não aconteceu. É mais, o próprio líder do PSD já afastou essa hipótese. As eleições presidenciais não alteraram significativamente a relação de forças entre os dois partidos de centro.

2. Por isso, mas também por outras razões, o PS não é um derrotado destas eleições. Atrevo-me a dizer que Sócrates é ideologicamente mais próximo de Cavaco (dois keynesianos) do que de Alegre (de esquerda não marxista) ou de Passos Coelho (democrata liberal, se os termos não são contraditórios). Esta análise não é nova e eu já a tinha apresentado num post em Maio do ano passado. Foi isto que permitiu que o PS entrasse numa candidatura para perder e não medir forças com o PSD.

3. O BE entrou nestas eleições de forma equivocada. Buscou impor um candidato ao PS e, numa segunda volta, ao PCP. Não é compreensível como os dirigentes deste partido se equivocaram. Alegre nunca foi o único candidato com possibilidades de derrotar Cavaco pela simples razão de que o PS nunca esteve interessado em derrotar Cavaco. Muitos sectores do PS, incluindo Sócrates, preferem Cavaco a Alegre.

Mas foi mais grave. O BE viu o seu candidato prestar vassalagem a um governo do qual, pelo menos oficialmente, o BE discorda. E, como se não bastasse, Alegre isentou o PS de quaisquer responsabilidades sobre o resultado. Certamente com razão neste último aspecto. Se o PS pecou por alguma coisa foi por ausência.

É impossível hoje que Louçã não saiba disto. Por isso mesmo, a sua análise da contenda eleitoral é falsa e oportunista!

4. O PCP foi derrotado. Não foi por um erro estratégico, foi algo mais lato. A decisão tomada, de assumir uma candidatura própria, face ao exposto, era inevitável. Contudo é uma derrota ficar em quarto lugar, depois de um anti-candidato: Fernando Nobre. Um candidato sem estrutura (isto é, não sei se não teve o apoio da maçonaria).

Mas a perda de votos do PCP não pode ser explicada somente por esta contenda. Explica-se pela ruptura que existe entre o PCP e o resto da sociedade portuguesa. O PCP tem uma forma de ver o mundo que o distingue e me faz militante dele. Mas que custa a entender às pessoas. Daí que possam desqualificar o que eu ou outro militante diz com a simples frase: “isso é paleio de comunista”. Nunca ouvi algo semelhante aplicado a um militante de outro partido.Trata-se da sequela (como uma pegada) do anti-comunismo da guerra fria. Os comunistas são os outros, os estranhos, alienígenas.

Isto se agravou após a crise interna de 1999-2004 onde, depois de 5 anos em que o partido necessitou de voltar-se para dentro, perdeu competências para lidar essa barreira. Não se entenda daqui que acho que o partido resolveu mal essa crise. Pelo contrário. A necessidade de disputar o poder com minorias fortemente apoiadas pela comunicação social, obrigou os comunistas a desenvolver uma nova forma de trabalhar e um novo discurso. Essa nova forma de estar dos militantes comunistas é sobretudo voltada para dentro, o que torna ainda mais profunda essa barreira.

Para explicar melhor o que quero dizer coloco a seguinte questão: Quando o PCP escreve num cartaz “Rumo ao socialismo” será que os indivíduos não militantes do PCP entenderão “socialismo” da mesma forma que os militantes do PCP? Então, não corremos aqui o risco de falar de um modo que só curas entenderão a nossa missa?

26 de Janeiro de 2011 Posted by | Partidos, Portugal | , , , , | Comentários Desativados em Os derrotados das presidenciais

O PSD e o FMI

Teoria da conspiração? Talvez! Mas o facto de militantes do PSD terem afirmado hoje ao DN que é inevitável a entrada do FMI em Portugal, deve ser tomada com muita atenção. Ao mesmo tempo, se afirma por toda a parte que o Cavaco (reeleito) terá de convocar eleições antecipadas no primeiro semestre do próximo ano. E, por coincidência, o FMI contratou agora um ex-dirigente do PSD para o cargo de director do seu departamento europeu.

Não me parece loucura afirmar que uma determinada ala do PSD, apoiada seguramente numa elite empresarial, quer chegar ao governo sob tutela do FMI. Mas nem todas as cartas estão marcadas. Carlos Abreu Amorim parece ter razão quando afirma que o PSD não pode confiar demasiado em Cavaco.

28 de Outubro de 2010 Posted by | Economia, Partidos, Portugal | , , | Comentários Desativados em O PSD e o FMI

Cavaco e a democracia

Cavaco lançou-se hoje em pré-campanha para as presidenciais. Aproveitando as férias (forçadas pela moção de censura do PCP) de Alegre, Cavaco afirmou que a estabilidade política é a saída para a crise. O seu discurso, sem dúvida, se encavalita  no recente acordo entre o PS e o PSD para “tirar Portugal da crise”. (Resta perguntar o que poderia ser pior do que isto e se é mesmo verdade que num clima de instabilidade política a situação era muito diferente? E, ainda, se sendo diferente era diferente para pior).

Com tudo isto Cavaco, mais que Alegre, parece o candidato ideal para o PS. A única razão pela qual o PS jamais apoiaria Cavaco é que tornaria esta farsa democrática numa ditadura às claras. A política portuguesa está transformada numa corrida de estafetas, onde dois partidos correm na mesma direcção, passando a estafeta ao outro quando este se cansa, isto é, a sua imagem se desgasta.

21 de Maio de 2010 Posted by | Partidos | , | Comentários Desativados em Cavaco e a democracia