A hecantombe do BE
Hoje, na RTP, Emídio Rangel falou da derrota do Bloco de Esquerda como uma hecatombe. Prometo fazer uma análise mais detalhada daqui por uns dias, quando os resultados forem mais claros. Sobretudo, espero fazer um comentário que olhe menos paras as percentagens e mais para os números absolutos.
Quando se comparam os resultados de 2005 com 2009, como fiz aqui, revelam-se outras coisas. Nas eleições passadas, o PS perdeu cerca de meio milhão de votos que o PSD não sobe aproveitar. Esses votos foram, obviamente, distribuídos entre a abstenção e o BE. (O PCP manteve-se impávido e sereno no seu cerca de meio milhão de eleitores). Ou seja, o resultado do BE há dois anos foi fruto de uma “derrota” do PS encoberta por uma derrota ainda maior do PSD. Em 2009, o PS perdeu votos sem que o PSD tivesse a competência para aproveitar-se disso.
Hoje, as eleições ocorreram num contexto diferente. O PSD foi capaz de aproveitar-se do desgaste do PS. O meio milhão de votos que o PS perdeu em 2009 e mais um novo meio milhão foram para o PSD. Isto é, os descontentes do governo de Sócrates inclinaram-se para a direita e não para a esquerda. O BE voltou a situação em que estava em 2005. Os resultados de 2009 provaram-se conjunturais. (O PCP manteve-se impávido e sereno com o seu meio milhão de votos).
Subestimar o caráter conjuntural dos resultados de há dois anos será prejudicial para o Bloco de Esquerda. A fraca coesão entre a sua ala pró-PCP e a sua ala pró-PS não aguentará uma disputa sobre quem teve a culpa de uma suposta “derrota”. E os comentadores de direita já voam como abutres sobre o BE, afirmando que chegou o momento do BE se decidir: “Ou escolhe ser um partido do arco da governabilidade ou definhar como um partido de protesto”.
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