Nem os bancos sabem
Tenho defendido que a entrada do FMI em Portugal foi evitada pelos bancos até ao final de fevereiro porque, para eles, a dívida privada sempre foi mais preocupante que a dívida pública. Seguindo as declarações de Carlos Carvalhas, defendi que a mudança de opinião da banca se deu à garantia, pelo BCE, de que o empréstimo do FMI conteria medidas que contemplavam os problemas da banca.
Mas ontem, Ricardo Salgado (BES) afirmou que os bancos não necessitam dos 12 milhões de euros que o FMI disponibilizou. Obviamente, o que incomoda aos bancos é o forma como está previsto que o fundo funcione: o dinheiro entra no bancos por aumentos de capital. Isto é, os bancos criariam novas ações que o Estado compraria, reforçado o capital do banco e, ao mesmo tempo, envolvendo o Estado na sua gestão. Como confessa Fernando Ulrich (BPI), isso não agradaria aos acionistas privados.
É curioso que estas declarações surgem num momento em que as exigências aos bancos aumentam. Por um lado exige-se que os bancos portugueses dependam menos do BCE. Por outro, é-lhe exigido a desalavancagem, isto é, que reduzam o rácio entre o dinheiro que emprestam e aquele que realmente detêm. O primeiro é sempre maior que o segundo e, de acordo com a edição impressa de hoje do Público, a alavancagem deve reduzir-se de 150% para 120%. Santos Ferreira (BCP) exige que a solução passe pagamento das dívidas do Estado. Na prática os bancos querem que os dependem do Estado – autarquias, PPPs, etc. – paguem as suas dívidas como forma de refinanciar os bancos. Não estarão a deixar de fora a divida do Estado central? Certamente, mas porque essa lhe faz falta.
A solução para a crise parece, nem os bancos sabem. Eles só aceitaram a solução da troika porque não viam outra. Cada vez mais se prova que estamos numa guerra inter-capitalista europeia. Mas enquanto se sustentarem à custa dos contribuintes, aguentam-se.
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